sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Chimamanda Ngozi Adichie e o porque devemos ser todos feministas.

A feminista que traduziu minha forma de enxergar o mundo.


Chimamanda Ngozi Adichie (38 anos) é hoje reconhecida como umas das mais importantes jovens escritores  em língua inglesa, ela é nigeriana e atraiu com seus livros uma nova geração de leitores para a literatura africana.
Hoje eu gostaria de falar de seu discurso “Todos nós deveríamos ser feministas” (We Should all be Feminists). Discurso realizado em 2012, onde a autora compartilha sua experiência em ser uma feminista africana e sua visão sobre construção de gênero e sexualidade. Foi através deste discurso que fui apresentada a maravilhosa essa maravilhosa mulher. Eu não sou do tipo tiete, mas em 30 minutos, esta mulher conseguiu, de forma majestosa e sem perder a graça e o humor, fato pelo qual ela também é amplamente conhecida, elaborar uma completa reflexão sobre o modo em que a sociedade divide homens e mulheres em papéis preconceituosos, injustos e totalmente antiquados à realidade do mundo em que vivemos.

O mais  importante em seu discurso, é que ela não direciona sua fala às mulheres, ela fala com todos, independente da classificação de gênero em uma forma de expressão que representa, acima de tudo, o respeito pelo individuo e suas acepções individuais. Outro fato importante pra mim em seu  discurso é ressaltado através da afirmação de que uma mulher “não precisa se desculpar pela sua feminilidade ou por ser mulher”, para ser respeitada. Ela não precisa apagar sua feminilidade, se isso for natural dela, para que o mundo a veja como respeitável. O respeito é algo que todos ganham por merecimento e não através de sua aparência.

Seu discurso aborda, entre outros, a concepção do que significa ser uma feminista e do como está palavra é demonizada. O conceito que a envolve é geralmente visto como uma afronta ao sexo masculino e de como as declaradas feminista são frequentemente vistas como inimigas do homens e das feminilidade de algumas mulheres. Mas isto é apenas uma visão destorcida deste conceito. Uma visão formulada por pessoas, sejam elas de qualquer gênero, que não entendem o que realmente significa ser feminista. Logo Adichie explica de uma forma bem humorada e didática o que realmente significa ser feminista e porque “todos” deviam ser feministas.

Eu não conheço pessoalmente nenhum país africano, mas não só pelo seu depoimento, mas também através da notícias que leio, mostra ser proveniente de uma cultura extremamente patriarcal onde a igualdade entre os gêneros é bem pequena ou praticamente inexistente. Mas ao ouvir o seu discurso reconheci todos seus elementos dentro das culturas da qual tenho conhecimento pessoal, tanto no Brasil, minha terra natal, quanto na Alemanha, local onde vivo agora. Eu continuo ouvindo as mesmas argumentações citadas pela escritora como: “feminismo é coisa de mulheres infeliz que não consegue arranjar um marido”, de “mulheres que odeiam homens”, “que odeiam sutiã”; E que homens não podem ser gentis e amáveis, que precisam ser fortes e nunca chorar, por que isto é coisa de mulher. Ou a argumentação de que está conversa feminista é um exagero, que as coisas “não são mais difíceis para as mulheres” que hoje as mulheres tem as mesmas possibilidades que os homens, “basta que elas queiram”.

Em menor ou maior escala, inclusive nos países onde a igualdade de gênero é considerada grande, como por exemplo os países do norte europeu ou Escandinávia, é possível encontrar, mesmo que de forma velada, os mesmos “pré-conceito” citados por Adichie e constatar que ainda vivemos em um mundo que se baseia num condicionamento social patriarcal não igualitário.

Assim como ela ressalta, as mulheres representam 52% da população mundial, mas a maioria das posições de poder e prestígio são ocupadas por homens: “Quanto mais alto você for, menos mulheres haverá.” Homens ainda recebem, em escala mundial, salários maiores para executar o mesmo cargo.

E porque deveríamos então sermos todos feministas.

O mundo evoluiu, mas a ideia de gênero não, os líderes no passado  precisavam ser portadores de força física, este era o atributo principal, e os homens, em grande maioria, são dotados de uma força física maior. Adichie argumenta que hoje as principais características de um líder são criatividade, inteligência, e pensamento inovador. E pra esses atributos não há hormônios: “Um homem é tão apto quanto uma mulher para ser inteligente, criativo e inovador”

A única forma de mudarmos este fato é construir uma sociedade onde todos serão criados como pessoas, onde as próximas gerações precisam ser educados de forma diferente. Também os garotos. Adichie define a masculinidade como uma “jaula pequenina” onde colocamos os meninos desde sua infância, onde eles aprendem a temer a fraqueza e a vulnerabilidade, sufocando assim sua humanidade.
Criamos as meninas para se encolherem, serem menores. Ensinamos que devem ter ambições, já que estamos em um mundo moderno, mas não muitas, porque elas precisam se moldar aos homens. O sucesso excessivo pode fazer com que o homem se sinta “desmasculinizados”.

As mulheres são criadas para ansiar o casamento, mas porque então os homens também não são? Mulheres são  criadas a se moldarem as necessidades de seus parceiros. A competirem entre si pela atenção dos homens; a serem menos sexuais que os homens.

Homens tem a desculpa do impulso da masculinidade para seus atos e mulheres precisa “fechar as pernas” e cobrir seu corpo para serem respeitadas.

Os papéis de gênero “prescrevem quem nós deveríamos ser e não quem nós realmente somos”. “Imaginem como felizes nós seriamos se nossos verdadeiros ‘eus’ fossem livres e se nós não tivéssemos o peso das ‘expectativas de gênero’.” Afirma  Chimamanda Adichie. “ E se ao criar as crianças, nós nos focássemos mais nas capacidades individuais e interesses ao invés dos papéis de gênero?”

A definição da palavra feminista lida por Adichie é: “Feminista, pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos”. Baseado nesta afirmação, talvez existam muitos mais feministas no mundo do que se possa imaginar. Ela afirma que para ela a definição de feminista é: “ Um homem ou uma mulher que diz: Sim existe um problema com a definição de gênero com são hoje, e nós devemos consertar isso. Nós devemos fazer melhor”.

O discurso lido por Chimamanda Ngozi Adichie neste dia é algo emblemático e deve ser divulgado. Há ainda muitas  pessoas neste mundo, sejam elas homens, mulheres e afins, que são feministas e ainda nem sabem.

Assista ao vídeo, ele é um deleite de inteligência argumentativa e coerência. E compartilhe para que mais pessoas saibam do que se trata ser um/a feminista.



Berlim, 25 de setembro de 2015.

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