A feminista que traduziu minha forma de enxergar o mundo.
Chimamanda Ngozi Adichie (38 anos) é hoje reconhecida
como umas das mais importantes jovens escritores em língua
inglesa, ela é nigeriana e atraiu com seus livros uma nova geração de leitores
para a literatura africana.
Hoje eu gostaria de falar de seu
discurso “Todos nós deveríamos ser feministas” (We Should all be Feminists).
Discurso realizado em 2012, onde a autora compartilha sua experiência em ser
uma feminista africana e sua visão sobre construção de gênero e sexualidade.
Foi através deste discurso que fui apresentada a maravilhosa essa maravilhosa
mulher. Eu não sou do tipo tiete, mas em 30 minutos, esta mulher conseguiu, de forma
majestosa e sem perder a graça e o humor, fato pelo qual ela também é
amplamente conhecida, elaborar uma completa reflexão sobre o modo em que a
sociedade divide homens e mulheres em papéis preconceituosos, injustos e
totalmente antiquados à realidade do mundo em que vivemos.
O mais importante em seu discurso, é que ela não
direciona sua fala às mulheres, ela fala com todos, independente da
classificação de gênero em uma forma de expressão que representa, acima de
tudo, o respeito pelo individuo e suas acepções individuais. Outro fato
importante pra mim em seu discurso é
ressaltado através da afirmação de que uma mulher “não precisa se desculpar
pela sua feminilidade ou por ser mulher”, para ser respeitada. Ela não precisa
apagar sua feminilidade, se isso for natural dela, para que o mundo a veja como
respeitável. O respeito é algo que todos ganham por merecimento e não através
de sua aparência.
Seu discurso aborda, entre outros, a
concepção do que significa ser uma feminista e do como está palavra é
demonizada. O conceito que a envolve é geralmente visto como uma afronta ao
sexo masculino e de como as declaradas feminista são frequentemente vistas como
inimigas do homens e das feminilidade de algumas mulheres. Mas isto é apenas
uma visão destorcida deste conceito. Uma visão formulada por pessoas, sejam
elas de qualquer gênero, que não entendem o que realmente significa ser
feminista. Logo Adichie explica de uma forma bem humorada e didática o que
realmente significa ser feminista e porque “todos” deviam ser feministas.
Eu não conheço pessoalmente nenhum
país africano, mas não só pelo seu depoimento, mas também através da notícias
que leio, mostra ser proveniente de uma cultura extremamente patriarcal onde a
igualdade entre os gêneros é bem pequena ou praticamente inexistente. Mas ao
ouvir o seu discurso reconheci todos seus elementos dentro das culturas da qual
tenho conhecimento pessoal, tanto no Brasil, minha terra natal, quanto na
Alemanha, local onde vivo agora. Eu continuo ouvindo as mesmas argumentações
citadas pela escritora como: “feminismo é coisa de mulheres infeliz que não
consegue arranjar um marido”, de “mulheres que odeiam homens”, “que odeiam
sutiã”; E que homens não podem ser gentis e amáveis, que precisam ser fortes e
nunca chorar, por que isto é coisa de mulher. Ou a argumentação de que está
conversa feminista é um exagero, que as coisas “não são mais difíceis para as
mulheres” que hoje as mulheres tem as mesmas possibilidades que os homens,
“basta que elas queiram”.
Em menor ou maior escala, inclusive
nos países onde a igualdade de gênero é considerada grande, como por exemplo os
países do norte europeu ou Escandinávia, é possível encontrar, mesmo que de
forma velada, os mesmos “pré-conceito” citados por Adichie e constatar que
ainda vivemos em um mundo que se baseia num condicionamento social patriarcal
não igualitário.
Assim como ela ressalta, as mulheres
representam 52% da população mundial, mas a maioria das posições de poder e
prestígio são ocupadas por homens: “Quanto mais alto você for, menos mulheres
haverá.” Homens ainda recebem, em escala mundial, salários maiores para
executar o mesmo cargo.
E porque deveríamos então sermos
todos feministas.
O mundo evoluiu, mas a ideia de
gênero não, os líderes no passado
precisavam ser portadores de força física, este era o atributo
principal, e os homens, em grande maioria, são dotados de uma força física
maior. Adichie argumenta que hoje as principais características de um líder são
criatividade, inteligência, e pensamento inovador. E pra esses atributos não há
hormônios: “Um homem é tão apto quanto uma mulher para ser inteligente,
criativo e inovador”
A única forma de mudarmos este fato
é construir uma sociedade onde todos serão criados como pessoas, onde as
próximas gerações precisam ser educados de forma diferente. Também os garotos.
Adichie define a masculinidade como uma “jaula pequenina” onde colocamos os
meninos desde sua infância, onde eles aprendem a temer a fraqueza e a vulnerabilidade,
sufocando assim sua humanidade.
Criamos as meninas para se
encolherem, serem menores. Ensinamos que devem ter ambições, já que estamos em
um mundo moderno, mas não muitas, porque elas precisam se moldar aos homens. O
sucesso excessivo pode fazer com que o homem se sinta “desmasculinizados”.
As mulheres são criadas para ansiar
o casamento, mas porque então os homens também não são? Mulheres são criadas a se moldarem as necessidades de seus
parceiros. A competirem entre si pela atenção dos homens; a serem menos sexuais
que os homens.
Homens tem a desculpa do impulso da
masculinidade para seus atos e mulheres precisa “fechar as pernas” e cobrir seu
corpo para serem respeitadas.
Os papéis de gênero “prescrevem quem
nós deveríamos ser e não quem nós realmente somos”. “Imaginem como felizes nós
seriamos se nossos verdadeiros ‘eus’ fossem livres e se nós não tivéssemos o
peso das ‘expectativas de gênero’.” Afirma Chimamanda Adichie. “ E se ao criar as crianças, nós nos focássemos mais
nas capacidades individuais e interesses ao invés dos papéis de gênero?”
A definição da palavra feminista
lida por Adichie é: “Feminista, pessoa que acredita na igualdade social,
política e econômica entre os sexos”. Baseado nesta afirmação, talvez existam
muitos mais feministas no mundo do que se possa imaginar. Ela afirma que para
ela a definição de feminista é: “ Um homem ou uma mulher que diz: Sim existe um
problema com a definição de gênero com são hoje, e nós devemos consertar isso.
Nós devemos fazer melhor”.
O discurso lido por Chimamanda Ngozi Adichie neste dia é algo
emblemático e deve ser divulgado. Há ainda muitas pessoas neste mundo, sejam elas homens,
mulheres e afins, que são feministas e ainda nem sabem.
Assista ao vídeo, ele é um deleite de
inteligência argumentativa e coerência. E compartilhe para que mais pessoas
saibam do que se trata ser um/a feminista.
Berlim, 25 de setembro de 2015.
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