quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Os Avessos que promovem Covardes e Vaidosos


Existe um embate dentro de cada um de nós, um embate entre duas forças muito fortes: o Indivíduo e o Social. O que diferencia cada indivíduo do outro, é a força com que cada uma dessas polaridades atua dentro dele.

A força Social encontra um predomínio de influências, e devido sua atuação o "Um" procura por "Outros" ou "grupos de Outros" para que, através das similaridades, sintam-se aparados, fortes e assim não estarão mais sós. Mas a força Indivíduo nunca para de agir, ela continua martelando, reconhecendo diferenças dentro deste semelhante social e quanto mais pungente for essa força Indivíduo mais este "Um" irá se distanciar do grupo e, ironicamente, terá mais em comum com grupos diversos, pertencendo dessa forma a todos e a nenhum.
Mas quanto mais este "Um individual" toma conhecimento da impossibilidade de se inserir em um grupo, mais aumenta a angústia por esta busca, que, mesmo inconsciente, não para, pois a força Social continua pulsando latente lá dentro, a procura de seus "Outros".


Este "Um" não pode e/ou não quer fazer parte de nada. Não pode,  jamais ficará satisfeito, mas, ao mesmo tempo,  não fazer parte significa negar uma parte de si que lhe é cara.


Ou seja, não pode evitar fazer parte por uma necessidade, uma Vaidade eminente que o faz escravizar e o escraviza ao mesmo tempo.
Não quer assumir por medo, medo de deixar, de selecionar e de excluir. Covarde diante da possibilidade do erro.


Um Avesso uma aporia.




São Paulo, 06 de outubro de 2009.




sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Quase um encontro


Sentada no metrô, lia um livro. “Não, não é possível que eles morram, e isso não pode ser revelado assim, no meio do livro...” franziu a sobrancelha num misto de reprovação e confusão. Gesto esse que não deve ter sido tão discreto assim, pois notou que estava sendo observada. Um rapaz a observava e sorria, como quem pensa: “Olha essa garota tão sonhadora sofrendo com a leitura.” Desviou o olhar para não ser percebido. Tarde demais!
A estação chegou. Ela arrumou de forma desengonçada o montante de coisas e livro que carregava, e que, ironicamente,  intitulava de “Peso do Conhecimento”. O que provocou outro sorriso dele. Por um acaso, o rapaz desceu na mesma estação para fazer a troca do trem. “Será que vai pra mesma direção ou pra oposta? A mesma, legal!” como gostava de acasos observou. Pode-se dizer que o rapaz era bonito, boca bem desenhada, olhar expressivo. Olhos talvez um pouco grandes demais. Ele se mantinha andando sempre a sua frente.
Por um acaso,  ou não muito acaso assim, entraram de novo no mesmo vagão. Ela encostou-se e voltou a ler. Não para fazer charme, mas por que precisava terminar o capítulo antes de chegar ao seu destino. O garoto já não olhava mais, talvez por ter percebido que era observado. O destino chegou e novamente desceram na mesma estação, o garoto saiu apressado, ela tentou segui-lo, mas por causa do peso logo desistiu, apenas seus olhos continuaram seguindo-o até sumir na multidão. Quase um encontro.

São Paulo, 01 de outubro de 2009.